quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Reflexos

Sinto uma imensa vontade de vomitar, um calor excessivo, a cabeça vai explodir, mais uma discussão. Reflito o que mais odeio. Explodo como as explosões que me fazem mais mal e depois sinto ânsia. Quero ir embora. Não por querer sair da cidade exclusivamente. Há semanas tenho dito pensamentos conturbados, a meses não escrevo, faltei várias sessões da terapia e falho com o remédio, não falo de nada com ninguém, perdi meu contato mais próximo -com quem eu me abria, misturo álcool com tratamento não por escape mas talvez porque quero voltar a ser eu. Por mais risadas que eu dê na rua em casa sempre me estresso e a culpa é só minha. Se é aqui que explodo é por ser como o que eu não quero ser, por agir como o que eu não quero copiar e no calor do momento eu vomito palavras e depois sinto ânsia apenas e já não há tempo para consertar. Eu afasto todas as tentativas de conversa que as pessoas tem comigo por já achar que estão previamente me julgando de tanto que me alertam para o NÃO FAÇA ISSO, NÃO FAÇA AQUILO, PREFIRO FALAR ANTES QUE VOCÊ FAÇA DO QUE DEPOIS QUE A MERDA ESTEJA FEITA. E eu, como a pessoa que já se culpa por tudo antes do tempo, explodo porque para além disso há cobrança exterior, mesmo que erroneamente ~ou não ~ eles não me querem por perto pela minha presença, me querem para que seja mais fácil controlar o possível alcoolismo que essa garota posso desenvolver, para evitar as possíveis festas que ela queira dar na casa que não é SÓ dela, não importa se ela luta para manter o controle de tudo, temos que alertá-la a todo momento, ERROS ACONTECEM MAS É MELHOR QUE NÃO ACONTEÇAM.
Eles não sabem, deduzem, porque eu não falo. Nunca falei.
Nunca bebi para esconder ou extravasar tristeza, nunca gostei de beber quando estava triste. Voltei sempre sozinha para casa por não achar justo tirar alguém da cama na madrugada. Não peço nada além do que já me dão. Mas isso não conta se você explode sempre. As explosões machucam. Já me machucaram muito e hoje machuco os outros. Meu excesso de nuncas talvez tenha poupado meus pais mas poupou tanto que eles não me conhecem e nem quero que conheçam talvez para não decepcioná-los. Não aceito os elogios da rua porque não vieram deles, vieram dos que me conhecem quando eu não estou explodindo e talvez seja por isso que sou amiga dos que extravasam, eles se machucam tanto quanto eu, mas eles não guardam, eles seguem e tudo fica bem depois.