sábado, 14 de setembro de 2019

Preciso falar

Nunca lidei bem com perdas, sempre tive medo delas mas como consequência da vida elas sempre aparecem, das suas mais variadas formas, muitas vezes inesperadamente, vezes com aviso prévio cujo grito é ignorado, vezes por ter chegado a hora.
Independente da forma, nunca lidei bem. Primeiro porque não é sobre mim, é sobre alguém que desconheço em sua totalidade, não sei o que devo sentir, até que ponto me é permitido e legítimo sentir e sei que isso soa como algo egocêntrico "o que EU devo sentir" mas só posso interferir na minha existência, só sei o que se passa no meu interior. Por fuga desse egocentrismo eu abafo enquanto tento racionalizar como agir diante dessas situações. O que dizer? O que fazer? Por  quanto tempo? O que acontece que eu perco totalmente minhas estruturas e rumo?
Ao longo de toda essa semana não tive vontade de fazer nada comum à minha rotina, vivi e ainda vivo um grande vazio, sem encontrar nenhuma das respostas para as questões acima. Fatalidades acontecem, não estamos preparados. Não consegui falar, escrever, elaborar... mas dói, sendo ou não permitido, dói.
Ser quieta quanto aos meus pensamentos mais profundos me faz mal, sempre que tenho oportunidade de falar o choro vem a garganta e me esforço para segurá-lo até que passe, daí não choro mas também não falo. E por não falar talvez ainda esteja vivendo um luto de 2 anos atrás acumulados com outros posteriores lutos que não superei, apenas acho que superei.
Em datas específicas sentimos e lembramos das perdas, das dores, lembranças que arquivamos para seguir em frente.
Ao longo dos últimos 18 meses fui vivendo cada etapa do luto, respeitando meu tempo, maturando minhas culpas, até que me senti leva novamente e arquivei a culpa, não a lembrança mas ela não estava resolvida e voltou, bem devagar quase sem que eu a percebesse.
Na última semana ela chegou com presença, cada respiro uma lembrança de um erro cometido, de uma insegurança relacionada a perdas e a não dar conta delas e de não ser capaz de acolher as pessoas diretamente relacionadas a estas perdas.
Lembrei de algo que eu já havia aprendido: eu NÃO POSSO salvar o mundo. NÃO POSSO livrar as pessoas da dor que elas tem que sentir e elaborar por elas mesmas. E no fim lembro que EU não posso ajudar ninguém esquecendo de me ajudar antes. Não vivi toda a dor por ter vergonha de falar e incomodar as pessoas com um assunto que pode tira-las do eixo, assuntos que elas decidiram arquivar e eu nome do respeito que tenho aos outros arquivo minha fala que entala na garganta sempre que tenho oportunidade de desabafar e extravasar.
Eu errei, bastante, mais do que esperava nos últimos 2, 3 anos e além de aprender com isso me envergonho cada vez que reconheço um novo erro.
Eu sei que esse incômodo da última semana é mais uma transformação chegando e a passos lentos vamos caminhando e aprendendo, com dores e frustrações que nos lembram do mundo real e fatal. O sono pesado que sinto é meu corpo querendo fugir e desligar, tentando achar conforto no inconstante. Eu preciso falar, com os outros, aprender a não me sentir mal por me expor.