segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Eu precisei dar um tempo

Eu precisei dar um tempo.
Eu já estava engasgada há muito com tudo e calhou do celular estragar.
Eu quis falar o que me incomodava mas ao mesmo tempo aquilo parecia mais uma das minhas neuroses querendo me dominar em um momento de fragilidade e depressão. Não queria soltar palavras ao mundo sobre algo que incomodava só a mim, sempre que isso acontece eu ajo pensando que se eu criei uma neurose sou quem tem que lidar com ela não os outros e não comentei com n i n g u é m. Convivi com elas nas últimas semanas, no último mês, alguma até no último ano, fora as que a gente já carrega na mala da vida. Eu sumi das redes sociais por uma semana, eu sumi, e confesso, querendo num primeiro momento que me procurassem, que me oferecessem ajuda quando eu nem mesmo pedi, eu quis algo que não ia acontecer. Eu tentei fugir do dia fatídico e ele chegou, eu vivi como pude. Como muita gente que sofre calada eu sumi sem dar explicações porque as chances de ser apenas considerado drama são altas e talvez até seja um drama mas de alguém que se perdeu e precisa de uma pausa pra se realinhar.
Estava me sentindo incomodada com pessoas do meu cotidiano e não era de agora mas não podia dizer, a minha queixa seria considerada como o feitiço virando contra o feiticeiro e sabe se lá onde iria dar. Eu sumi deles, mas com alguns outros amigos eu busquei conversar. Não sei como será daqui adiante e não quero me justificar porque explicar algo que só aconteceu na minha cabeça e no meu corpo não é uma tarefa fácil nem mesmo que possa ser concluída porque quando proferida em voz alta, perde todo seu sentido mas eu juro, eu senti.
Eu precisei dar um tempo, por mim mas se fosse eu do outro lado não ficaria contente. Só que viver uma vida toda pensando do outro lado e se anulando não é a melhor saída sempre. Eu precisei dar um tempo, talvez não da melhor maneira porque sozinho você não enxerga nada, mas sem estar sozinho você não se encontra também.
Eu precisei dar um tempo e experimentei o gosto nada doce do tempo que dei uns anos atrás e me afundei. Eu não quero me afundar de novo.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Dia Dois

O dia amanheceu com neblina e foi ficando azul, com um sol quente, totalmente diferente da chuva que caía um ano atrás. Acordei sem despertador como naquele dia, fiquei com receio de olhar o celular, tive uma rápida sensação de reviver tudo, o dia todo foi assim. Pois bem, escolhi um vestido floral, pedi o carro do meu pai antes "o famigerado carro do pai", busquei nossa amiga e fomos. Não conversamos muito mas falamos sobre ter acordado melhor do que imaginávamos.
Entramos e muitas flores da sua tia avó ainda estavam por lá, secas, sem cheiro e tapando sua foto. Encostamos no túmulo, falamos umas coisas, ficamos no nosso silêncio, ela em suas orações e eu.. tentando entender o que fazer ali senão conversar com você, não sou boa nisso né?
Não sabia o que falar, o que pensar, o que dizer, mas era um "silêncio" confortável. Olhei pro túmulo, quase me debrucei sobre ele e resolvi olhar pro céu, todo azul, com a lua ainda lá e umas nuvens rajadas, dois rajados pra ser exatas, sei lá porque quis pensar que pareciam asas, lembrei das suas asas nas costas, pensei que era muita viagem mas eu queria achar algo que nos reconectasse, queria algo seu, guardei isso pra mim. Rimos de alguma coisa, conversamos e Carol pediu um abraço. No dia anterior ao abraçá-la eu fui tomada por uma emoção que me fez chorar e eu estava engasgada, inquieta... já nesse eu disse que foi mais leve. Eu senti uma cheiro doce, como de rosa, ela também, mas o cheiro não era nosso, nem das flores secas.. Lá eu não chorei, eu realmente não sentia muita coisa, foi a primeira vez que não chorei ali, deu até vontade de sentar como você fez quando fomos lá juntos e deve ser por isso que fiquei encostada lá tanto tempo. Sua tia chegou com duas rosas nas mãos, toda vestida de rosa, Juninho chegou com uma camiseta rosa, meu vestido tinha rosas, a blusa da Carol também, de alguma forma eramos de novo nós juntos, lá, um ano depois de tudo, meio desajeitados, mas juntos por você, sem combinar.
Quando voltei pra casa fui tendo umas emoções ao longo do dia, busquei músicas que me lembravam você, ouvi, senti, me acalmei de novo. E fui pra aula, mas eu queria ficar na minha, ate pensei em contar pra alguém sobre você mas não quis, fiquei perto dos amigos mas de fone, com meu café, com a cabeça vazia. Até que a Lecticia veio e me deu um abraço toda emocionada. Tirei os fones e conversei, e ela disse que sabia que eu queria chorar mas tava segurando e eu não queria  mas quando ela falou veio, minha garganta fechou, nos abraçamos e ela me pediu pra ouvir o que tava tocando no celular e nesse exato momento, controlando as lágrimas que queriam sair Criolo cantou:
"Não quero ver você triste assim, não

Que a minha música possa te levar amor (...)
Esperando a lotação pra ir pro evento de rap
Lembrei de alguém que não tá mais entre a gente
A dona morte vem, carrega os mano na mó pressa
Uma estrela a mais no céu, um rimador falta na Terra
Deus sabe sempre o que tá fazendo
Mesmo sabendo disso eu sofro, vai vendo
Quem tem noção das coisas, sente o peso da maldade
A cobrança é maior, inteligência atrai vaidade
E quem se deixou levar fraquejou
Essa é a verdade, aprenda com os erros
Não se sinta um covarde
Na praia, Jesus me carregou no colo
Eu vi o par de pegadas, não entendi o óbvio
Que o fardo não é maior do que posso carregar
Se a vida é o jogo, então, vamos ganhar"


Entendi isso como um recado, comecei a rir de nervoso e a Lecticia disse que nada é por acaso, nem isso, nem nada do que acontece. Por algum motivo eu quis dar atenção a isso e ouvir como um recado, seu e da vida. Eu não fiquei olhando o dia todo o que as pessoas escreveram pra você, procurei alguns, quase voltei pras redes pra escrever mas seria algo pros outros, não meu pra você e as músicas falaram comigo. Subindo pra sala coloquei o fone de novo e tocava um trecho que você disse que lembrava de mim:

"Oh! Meu Deus
Eu disse que eu não 'tava bem
Logo em seguida ela vem
Me faz melhorar"


E foi com essas coisas, que eu quis dar sentido e sentimento, que meu dia acabou.
Há um ano eu tive a semana mais estranha que eu não sei se vivi ou se liguei o modo automático e fui. Há um ano eu lembro de você todos os dias. Dirigir me faz lembrar de você. Criolo, Rael, Marrocos, Bruno, Samuel. Seguimos, se cuida e quando puder diz como é que cê tá. Te amo filho, amigo, irmão.