quinta-feira, 13 de julho de 2017

Farsa

Eu sou uma farsa.
Sou tímida, falo pouco o que acaba fazendo com que me enxerguem com ar misterioso, com que criem expectativas da maravilha que devo ser quando resolvo me abrir.
Gosto sim de ser companhia, companheira, de fazer carinho, de receber elogios e ficar sem graça mas irracionalmente vou passo após passo, não demonstro deslumbramento, paixão louca. Não nos primeiros minutos, não nos primeiros encontros. Necessito intimidade no sentido de ser intima das emoções, sentimentos e da companhia, de me sentir a vontade para apenas ser. Porque não, ainda não é assim que me sinto no dia a dia. Eu ouço as primeiras palavras desconfiando das intenções, da verdade, eu sou insegura de mim, não quero me desfazer a toa. E isso pode demorar meses, semanas ou mínimos encontros.
Eu vou contra a maré: as pessoas começam relações no boom da paixão e loucura desenfreada e se não encontram isso, perdem o interesse, o tesão e eu até compreendo; mas eu, eu vou com calma e com alma, permito sentir aos poucos mas quando sinto posso me doar. Eu preciso que a outra parte não fuja mas persista se assim achar que deve. Aí sou boom, sou loucura, sou total interesse e entrega.
Eu sou uma farsa porque esse mistério que enxergam não se quebra em duas saídas, a chave se constrói e de todas as experiências que tive só me restaram um molho de chaves minhas construídas pela metade. Quando digo todas, digo sem exceção e isso me dói e me intriga. Esse mistério nada mais é do que eu, do que sou e agora depois de infinitas vezes cogito pensar que eu, o que sou, seja ruim, seja pouco, seja simples demais, seja desinteressante, seja nada.
Vejo todos dos quais poderiam ter construído essa chave encontrando o que procuravam em outras pessoas, todos, até permito uma brincadeira de que há uma maldição em que após uma pessoa ficar comigo ela aparecerá namorando, outra. Porque foi o que aconteceu. Todas as vezes.
Fora o sufoco que me dá a sensação de que querem me esconder ou apenas não aparecer em público comigo. Porque parece neurose mas é exatamente o que sinto, o que senti todas as vezes.
Eu sou uma farsa que está quase acreditando que seu destino e ficar só, nem mesmo tentar, nem mesmo cogitar tentar. E o único mistério que tenho hoje é esse. Não quero oferecê-lo a ninguém, quero destruí-lo porque ele me destrói.

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