sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Rosas brancas

O dia está atípico desde a hora que acordei.
Minha mãe chegou meio agitada e por algum motivo eu já esperava uma notícia ruim, que não existia. Mas ela me fez um pedido e não pude recusar. Fomos então comprar duas rosas brancas para levar ao cemitério. Nesse último ano fui mais vezes lá do que gostaria mas hoje cheguei a conclusão que lá é um lugar para encerrar alguma coisa. Pois bem o motivo era meu avô mas pelo caminho todo até a hora de descer da moto eu pensei no meu avô, claramente e nas pessoas que me levaram até lá nesse último ano. Levei óculos escuros porque sabia que em algum momento eu quebraria. Procuramos o lugar, minha mãe deixou uma das rosas, trocamos umas palavras e deixem ela em silêncio. Como das outras vezes eu já iria em direção ao túmulo do Bruno mas antes minha mãe pediu que eu deixasse a outra rosa lá, para ele e eu quebrei. O dia pela manhã estava nublado, tal qual foi quase um ano atrás, mas não chovia. Eu chovia enquanto caminhava até lá. Não soube bem o que fazer, das outras vezes eu pedia pela paz e calma dele dessa vez eu tentei não chorar mas não deu, pensei rapidamente que ele estivesse em paz, que estivesse bem e depois não soube o que pensar, parei de chorar e antes de caminhar pra ir embora meu pensamento foi de pedir desculpa, desculpa se meus pensamentos diários nesse último ano não foram sempre os de pedir por paz mas também de dor, eu ainda não me livrei dela. Saindo de lá eu tive um insight, desde o fatídico dia eu pedi sempre por paz, por calma, por estar bem, por pensarem coisas boas pra ele e se no fundo toda essa paz que pedi e emanei a ele fosse um pedido por mim também? Entende? Não como um ato egoísta mas eu não estou em paz com o que houve. Cada dia que passa, nesse mês, se aproxima de completar um ano e eu tenho ficado mais e mais estranha. eu me segurei esse ano inconscientemente. Não extravasei tudo lá no começo eu precisava seguir, eu precisava fazer as pessoas seguirem, eu tinha necessidade de estar ali para ouvir tudo de todos e de cuidar de todo mundo e eu me descarreguei nisso.
Uns dias atrás sonhei com Bruno. Depois de muuuito tempo e de muito tentar inclusive. Acordei chorando. Tinha acabado minha semana de provas e eu estava com estresse altíssimo e nesse sonho aconteceu algo que eu queria muito. Nos poucos sonhos que tive eu não conseguia dar as mãos ou abraçá-lo, mas tudo bem eram sonhos... me incomodava o fato de não poder abraçá-lo nem nesse universo dos sonhos mas eu não tinha como controlar o que iria sonhar, só ele era capaz, dos que eu conheço, de controlar o que sonhar e o que fazer no sonho. haha Mas nesse dia eu acordei chorando porque por algum motivo ele tinha voltado e quando entrou no meu quarto após eu acordar eu pulei nas costas dele e dei o abraço mais apertado que pude. Então eu acordei de fato. Foi um choro de estresse mental e corporal mas foi também de alívio, demorei 11 meses pra conseguir um abraço em um sonho.
Eu ainda tenho muita dificuldade de afirmar no que acredito, porque não acredito sem duvidar nas coisas do mundo. Não sei se existe depois. Talvez seja por isso que meu pensamento sobre a paz que peço para as pessoas que morrem seja também um pedido de que eu fique em paz com esse ciclo que terminou.
Embora na hora eu não soubesse o que fazer, uma rosa branca deixada em túmulo com a foto de uma das pessoas que mais sinto saudade próximo de completar um ano em meio a várias crises que tenho tido ao lidar com o assunto recentemente foi como ilustrar a paz que preciso ter com ele: ele o assunto, ele o Bruno, ele o fim.

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